Enquanto profissional da Gen Z, acredito que o futuro da comunicação depende da capacidade de as marcas e os meios compreenderem esta dualidade: não basta falar connosco, é preciso conversar connosco. Queremos rapidez, personalização e autenticidade, mas valorizamos a confiança e as experiências coletivas que os meios tradicionais nos transmitiram. Para mim, o caminho está em criar narrativas que combinem estas dimensões, porque só assim a comunicação será verdadeiramente relevante para a minha geração.
A minha geração cresceu com a evolução tecnológica, desde o aparecimento dos telemóveis até à inteligência artificial. Apesar disso, ainda fomos verdadeiramente impactados pelos meios tradicionais. Com este misto de sinergias, somos uma geração com o smartphone sempre à mão, mas que ainda se lembra de alguns spots de televisão. Esta combinação demonstra que a relação com os meios de comunicação é complexa: valorizamos a inovação e a rapidez, mas também reconhecemos a credibilidade e a influência dos meios que moldaram gerações anteriores.
Estamos habituados a consumir conteúdos de forma instantânea, a saltar entre plataformas e a escolher o que queremos ver e quando. A televisão, a rádio e a imprensa, muitas vezes não acompanham este ritmo, o que nos leva a privilegiar formatos digitais, curtos e altamente personalizados. Esta necessidade de rapidez e adaptação imediata coloca desafios tanto aos meios tradicionais como às marcas que investem neles.
Quando olhamos para os estudos mais recentes, percebemos alguns dados interessantes. Em 2024, a rádio manteve uma forte ligação à faixa dos 35-54 anos, que representa mais de 90% de reach semanal. Já a imprensa mostra maior afinidade entre os 35 e os 64 anos, enquanto a televisão continua a ser o meio mais consumido em Portugal, sobretudo entre as gerações acima dos 45 anos. Estes dados ajudam a perceber porque é que a Gen Z, apesar de ter crescido em contacto com os meios tradicionais, já não se revê neles.
Ainda assim, há elementos que continuam a ter valor, sobretudo a credibilidade e a confiança de alguns canais de informação consolidados. Além disso, os conteúdos em direto, sejam eventos desportivos, programas de entretenimento ou notícias, mantêm uma força que dificilmente é replicada no digital. Existe também uma dimensão emocional: a nostalgia de alguns jingles, spots ou até rituais familiares associados à televisão e à rádio, alimenta uma memória coletiva que ainda gera identificação. Mesmo que o consumo seja menor, reconhecemos que os meios tradicionais guardam um papel de autenticidade e de experiência partilhada.
Os meios tradicionais têm a oportunidade de se reinventar através de formatos híbridos que combinem a credibilidade do velho com a fluidez do novo. A integração com as redes sociais, seja através de conteúdos complementares, interativos ou partilháveis, permite aproximar as marcas das dinâmicas de consumo da Gen Z. O visual storytelling, adaptado a diferentes plataformas, pode transformar conteúdos em experiências imersivas e relevantes.
O desafio não é escolher entre o digital e o tradicional, mas sim encontrar formas de os unir, criando uma comunicação mais completa e próxima daquilo que a nova geração procura. Que papel terão os meios tradicionais na era do scroll infinito?